quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Nova Iorque para turistas - III


Dia 3: Quarta-feira, 19/Set/2007

A Cristina lança-se à batalha matinal por um lugar no duche. Prova superada. Cristina na conferência e as minhas virilhas estão melhores. Confiante, depois de a deixar lá, empreendo uma grande volta, de para aí 10 km a pé pela cidade, em busca de um computador portátil.
O primeiro preço razoável que obtenho é de 400 dólares, que foi regateado em meia-hora, depois de uma proposta inicial do vendedor (nitidamente uma criatura sem mãe, porque já a devia ter vendido há muito tempo...), de 600 dólares!
Parto em busca de melhor negócio.
Perto das 14h, com a bexiga a explodir e o estômago a implodir, paro p'ra comer uma fatia de pizza e aliviar a pressão interna. Aproveito a pausa para me sentar pela 1ª vez desde que saí do hotel lá pelas 9h.
2 horas e alguns quilómetros depois, encontro nova “pechincha”: 450 dólares por um computador um pouco melhor. Volto ao 1º vendedor e pergunto-lhe se consegue acompanhar a outra oferta.
Ele já não se lembra do nosso quase-negócio dessa manhã e começa tudo de novo. Depois de ter de regatear desde os 600 dólares que ele me torna a propor, acertamos os 450, já com impostos. Nessa altura e depois de já ter ouvido todo o tipo de argumentos, possíveis, impossíveis e quase imaginários, desisto de fazer negócio ali. É simplesmente demasiada aldrabice, demasiado absurda, demasiado junta.
Regresso ao hotel com os pés completamente desfeitos.
A chegar ao hotel, descubro que o caminho tinha sido selado pela Polícia com aquela fita amarela que se vê nos filmes, a dizer «N. Y. P. D. do not cross». Fazem-me ir dar a volta ao quarteirão para entrar no hotel. Pouco tempo depois de cá estar dentro, até a entrada para o hotel tinha sido selada. Começa-se a juntar montes de gente na rua.
Uma hora depois de estar no hotel, a Polícia retira as fitas amarelas, os carros e os agentes da rua e regressa tudo à normalidade. Ninguém se atirou de um prédio. Não houve explosões. Nem tiros. Nem perseguições policiais. Nem filmagens na rua. Sinto-me defraudado e continuo morto no primeiro meio-metro a contar do chão.
Às 18h20 vou ter com a Cristina ao sítio da conferência uns minutos depois da hora combinada. Não consigo dar com aquela porra à primeira tentativa (nem à 10ª, já que falamos nisso) e passo mais 45 minutos a andar às voltas (leia-se a arrastar-me por uma data de quarteirões) até a conseguir encontrar. Felizmente ela tinha saído bastante atrasada da conferência e não apanhou uma grandessíssima seca à minha espera.
Ela, farta da conferência mas cheia da compreensível vontade de "turismar" quer ir passear até Little Italy, Chinatown e à ponte de Brooklyn...
Com um humor de cão acedo e partimos para mais 3 horas de caminhada (ou seja, para aí mais 10 km no lombo) e 45 minutos de paragem num restaurante para comer um hamburger do tamanho de um alguidar. De repente, os 200 kg de gente com que amiúde nos cruzamos nas ruas começam a fazer todo o sentido.
Sou uma companhia deploravelmente intragável e a Cristina ganha o seu enésimo lugar no Céu desde que estamos juntos, por toda a má disposição que me atura durante o nosso passeio desta noite.
Os meus pés morrem pelo caminho, mas ressuscitam pouco tempo depois com bolhas. Arrastamo-nos de volta ao hotel, à velocidade a que as dores nos permitem, já que a meio do caminho também os pés da Cristina decidem protestar.
Rimo-nos que nem uns loucos da figura que fazemos a tentar andar e eu tenho mais uma vez a prova de que com a Cristina tudo fica melhor. Até o sofrimento físico.
Já não sinto as virilhas a arder. Desta vez são as nádegas que sofrem a erosão da caminhada. Novo duche (o 1º decente) e novo banho de creme hidratante, de perna aberta estilo matarrona selvaticamente violentada por uma dúzia de marinheiros romenos rebarbados.
É meia-noite. Passamos de fugida pela internet e adormecemos de exaustão.

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