quarta-feira, 25 de abril de 2007

Outro tipo de revolução

Eu não conheço grande coisa deste moço (em bom rigor, não conheço coisíssima nenhuma de praticamente nada), mas dei com este poema de que gostei bastante e que encaixa lindamente na temática "XX-Cinco do 4".


Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa -
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal -
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado, não!

(José Carlos Ary dos Santos)

3 comentários:

Pedro Duro disse...

Porra que tu em relação ao 25 de abril tanto dás uma no cravo como outra na ferradura (pun intended)...

Stones disse...

É o espírito "camaLeónico" ao rubro... ;)

Pedro Duro disse...

Leo na cama...

A esposa que se cuide...