quarta-feira, 5 de março de 2008

Aprendi a nadar aqui!


Ou pelo menos foi dos sítios onde dei as primeiras braçadas.

Numa altura em que não havia "paneleirices" de festivais «South by SouthWest», nem lá iam bandas fazer barulho e arrastar multidões para invadir / vandalizar aquele pedacinho de Costa Alentejana. Quando se lá ia só(?) para comer "perceves" e desfrutar de uma paisagem pouco povoada e curtir a praia pouco disputada.

Fazer castelos de areia, apanhar caranguejos e lapas e torrar ao Sol, na idade em que a água nunca estava demasiado fria para os banhos, não havia medo de apanhar cancros de pele por causa da exposição solar e em que as bandeiras verdes, amarelas e vermelhas eram consideradas uma modernice... Em que tinha de se fazer a digestão pelo menos 4 horas antes de se ir ao banho. E em que os nadadores-salvadores eram coisas de "lisboeta com a mania do progresso"...

Regressei há dias casualmente (na realidade foi em trabalho) à Zambujeira do Mar, talvez 25 anos depois de lá ter passado as férias de infância com os meus pais em vários anos consecutivos.

Vieram-me à cabeça imagens dos primeiros mergulhos nesta "piscina" natural (abrigada entre um porradão de rochedos, qual deles o de aspecto mais maciozinho...), onde o meu pai me incentivava a mergulhar das rochas, na precisa altura em que as ondas entravam por ali, para ter o máximo de profundidade, como se de mergulhos em Acapulco se tratasse (também me veio à cabeça a memória de ter esfolado uma perna num dos muitos pedregulhos que povoam esta praia e das dores do c@r@lho que senti, mas isso agora não vem ao caso...).

É claro que dados os devidos descontos, faz todo o sentido pensar nestes pormenores, que não são assim tão "menores" como tudo isso.

Muita da minha actual maneira de pensar é reflexo da educação que recebi e da influência que os meus pais tiveram na mesma. Para o bem e para o mal...

Infelizmente não lhes dou o devido valor. E é ainda mais claro que será, egoísta e estupidamente, quando eles já não estiverem "online" que irei ter a idade mental adequada para o fazer (f#d@-se, mas quando é que eu finalmente cresço?!?!?!...).

Enquanto ambos são vivos, aqui fica, não para eles mas para quem me acompanha nos meus devaneios virtuais, a devida homenagem à influência que eles tiveram em quem eu sou, com tudo o que isso tem de bom e de mau...

Não que me orgulhe de ser quem sou, mas porque eles merecem todas as homenagens e mais algumas - apesar de eles ainda hoje me darem por completo a volta ao juízo, fruto de vários choques geracionais - pelo simples(?) facto de me terem aturado as primeiras parvoíces e de continuarem (surpreendentemente) dispostos a aturar-me até às últimas (in)consequências.

Gosto muito bué muito mais ainda deles, embora não seja capaz de:
  • o admitir perante mim mesmo,
  • o demonstrar perante everybody else,
  • lhes dizer isso mesmo tantas vezes quantas eles o merecem ouvir.

E mais não digo...

Faço questão de voltar a esta praia com a minha Mulher, para lhe dar uma grandessíssima seca enquanto lhe mostro o calhau em que esfolei a perna, o café do Rita (sim, do Rita) que foi uma vez rebocar com a cinzenta e velha carrinha OPEL dele o carro do meu pai lá ao fim da descida, porque no regresso da praia o mais velho ainda, branco e de espírito muito orgulhosamente francês SIMCA achou que não lhe apetecia trabalhar e a estrada em que à 6ª Feira à noite íamos esperar que o meu cunhado chegasse de Lisboa, para passar o fim-de-semana connosco.

Há (muitos) dias em que odeio o meu trabalho.

Há dias em que (quase) o tolero.

Neste dia (29.Fev.2008) fiquei bué contente por o meu (mal-empregado) emprego me ter levado de novo a este autêntico "pedacinho de Céu" em que eu já não pensava há um porradão de anos.

Abençoado seja!

Que a Paz (seja lá o que isso for...) esteja convosco. No final da 6ª Feira passada, enquanto andei a fotografar esta praia, a visitar calhaus e a sentir a temperatura da água, esteve descontraída e alegremente comigo...

Vão lá apreciar aqueles grãos de areia um dia destes. E quando estiverem em uníssono com o Universo, mesmo "a raspar a tinta do poste" do Nirvana embalados pela brisa atlântica, dediquem um pensamento não a mim, que dust to dust hei-de ser, mas aos meus pais, que são a origem destas atabalhoadas sílabas... ;)

1 comentário:

Pedro Duro disse...

A trip down memory lane...