terça-feira, 29 de julho de 2008

Ninguém gosta da verdade

Chavões:

- É muito importante uma pessoa ser sincera e honesta
- Gosto muito de pessoas directas
- É tão refrescante alguém que realmente diz o que sente e acha
- A verdade é importantissima para uma relação de amor, amizade, trabalho

TUDO MENTIRA!!!!

O que realmente é verdade é que a "verdade" incomoda, magoa, repele, afasta, queima, sendo um inibidor social ao invés de ser lubrificante...

Se ao inicio quando começamos a conhecer alguém e esse alguém é realmente sincero, honesto e directo, pensa-se "Que bom, que refrescante, que rica maneira de encarar a vida, há poucas pessoas assim". Mas depois o efeito novidade passa, e o constante dizer da verdade irrita e muito, começando invariavelmente a aparecer as "little white lies". As pessoas começam a ter medo da reacção da outra, a não perguntar coisas pois sabem e verdade e nao a querem ouvir pois não gostam dela.

Quando alguém nos pergunta "Então, tá tudo bem contigo?", já sabem o que querem ouvir e é algo tipo "Sim, tudo, e contigo?". Ai jesus (cá estou eu a invocar o nome do mister em vão) se respondemos algo do género "Não, por acaso tá tudo uma bela merda." Neste segundo caso se a pessoa for amiga pergunta o que se passa, caso contrário fica incomodada pois estava só a fazer conversa de interludio.

Mas, à medida que vamos dizendo a verdade e suas ramificações mesmo os amigos começam a ficar incomodados, com pena, e invariavelmente (2a vez que uso esta palavra gira) a não querer ouvir mais. Ou seja acaba também por ser um filtro de amizade e amor, onde a rede é muito fechada e quase ninguém passa.

Estamos numa sociedade onde queremos ouvir e dizer coisas bonitas e raramente se deseja lidar com as verdades. Todos preferem a ilusão da felicidade inexistente à realidade da luta para atingir essa dita felicidade.

Coitados daqueles que como eu nao sabem, por mais que tentem, viver sem ser directos e sinceros sobretudo com as pessoas de quem mais gostam ou menos gostam (é curioso como acabamos por lidar de forma semelhante com estes 2 opostos). Há sempre uma expectativa ansiosa que vemos nos olhos dos outros quando abrimos a boa, que é um misto de "o que é que este maluco vai dizer agora? no sentido engraçado da coisa" e "o que é que este maluco vai dizer agora? no sentido de que vamos estragar algo da coisa".

Poucas as pessoas aguentam o tratamento da "verdade" de forma sistemática e contínua, e essas pessoas valem ouro. Há muito mais a perder do que a ganhar com esta estranha forma de ser.

É esta a minha cruz, mas ao menos no final do dia sei que disse o que sentia e sei que quem importa sabe com o que pode contar de mim (mas invariavelmente (3ª vez...) não sabem nem um terço do que seria capaz de fazer por elas).

Obrigado aos meus verdadeiros amigos por me aturarem, e aos meus amores (pessoas no sentido mais alto do que só amizade, homens ou mulheres) por me amarem, sabendo que sou como sou e indo pra velho um pouco mais sensato, mas também um pouco com menos paciência para aturar as "little white lies".

No meio de tanta merda, sou feliz pois acabo por saber e dar valor às pequenas coisas da vida.

Só gostava é que a puta da vida fosse um pouco mais fácil. A cena de que o que mais custa dá mais gozo e é mais importante é outra das mentirinhas da vida que contamos sobretudo a nós próprios.

2 snipe, or not 2 snipe...



Hoje tive uma notícia que me revoltou a sério: pelas 03h00 de ontem, o café aqui da frente foi assaltado.

Estava eu no terraço a essa hora e ouvi algo que se parecia com tiros. Uma vez que não vivemos no "Far West", achei que estava a fazer confusão e que devia ter sido um pneu a rebentar. Ignorei, acendi mais um cigarro e continuei a fazer festas à gata que tinha no colo...

Hoje, quando fui ao café comprar cigarros dei pela falta da máquina de tabaco que costuma estar junto à entrada e perguntei, na brincadeira, ao dono: «Então João, roubaram-te a máquina do tabaco?». A resposta foi: «Sim, esta noite, não sabias, não deste pelos tiros?»...

Mais, para que conste, há poucos dias tinha sido assaltada a papelaria cá do bairro, esta noite foi o café do João, onde vou comprar cigarros quase diariamente e onde alguns de vós já foram comigo jogar snooker ou simplesmente ver a bola.

Mais boas notícias, vindas do João: aparentemente, de 5ª para 6ª Feiras passadas, foram assaltados aqui na urbanização 39 (sim 39) carros, dos quais 6 na nossa rua. Pelo menos é esse o nº de queixas que foram apresentadas na G. N. R. de Palmela, pelo que na realidade até podem ter sido mais. A páginas tantas alguém deu por isso e chamou a G. N. R., que conseguiu apanhar os fs. d. p. que andavam no gamanço uns quantos bairros aqui abaixo e a cena deu origem a tiroteio pela noite dentro...

Ou seja: vivemos na realidade no "Close-by West", embora não pareça.

A questão que me ponho é a seguinte: eu sei que, se tivesse uma arma comigo e que se me tivesse apercebido do assalto ao café do João ou de alguém a assaltar um carro aqui na rua, teria ido, sem pensar 2 vezes, para cima do telhado, com as luzes cá de casa todas apagadas, fazer "tiro ao alvo" às «infelizes vítimas do sistema» que coitadinhos (put@ que os pariu!), não têm (não terão mesmo?!?!?!...) outro remédio a não ser roubar para sobreviver.

O que é certo é que, de acordo com o João, quando os vizinhos resolvem embirrar com o barulho do café, chamam a G. N. R. e a patrulha já tem lá passado 2 ou 3 vezes por noite para ver se está a ser cumprido o horário de funcionamento do café. Curiosamente ou não, apesar dos episódios de assaltos dos carros, da papelaria ou mais recentemente do café do João, ultimamente não tem por cá passado patrulha nenhuma.

Eu sei que por vias menos "lícitas", facilmente se arranja uma arma. Seguindo os trâmites legais, o processo é demorado e pode nem sequer ser bem sucedido. Mas, será que vale a pena seguir a lei, para nos (des)proteger dos chamados "fora-da-lei"?... E sei que lá diz o ditado que «a violência gera violência».

Também sei que é difícil julgar alguém, sem conhecer todas as circunstâncias, mas sem grande dificuldade me vejo a enfiar (pelo menos) um balázio pelos cornos a dentro de um cabrão que eu apanhe a fazer uma filha-da-putice qualquer, mais a mais no bairro onde vivo e onde gostaria de poder continuar a viver despreocupado e quem sabe ver os nossos filhos a crescer. E isso, venha lá quem vier e doa a quem doer, vale muito. Muito mais do que a vida de um qualquer infeliz que decide vir cá perturbar a paz de quem trabalha, cumpre leis, paga impostos e nada fez para merecer tal infortúnio.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Have I told you lately...

Euston cheira mal. Custa muito sair da cama sabendo que dentro de 1 hora vou estar num sitio barulhento, mal cheiroso onde quase me dao vomitos.
Quando chego ao departamento, nao deixei de comentar o cheiro horrivel deste lindo lugar a beira da estrada/comboio/metro plantado com o nosso adoravel recepcionista Noel. Riu-se. Quando me acalmei, pude ouvir a musica que estava a tocar no radiozinho do Noel - hmmm, nao, nao o tenho dito ultimamente, mas devia...
Ate ja malta, Agosto esta quase ai a chegar!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Big Issue I am homeless

Ouvi estas palavras ontem a noite antes de entrar no metro. Nao consegui deixar de fervilhar por dentro e pensar: "como e que podes pedir ajuda as pessoas que mais repudias/odeias no mundo?". Pareco cruel, nao e?
Julgo que nao, eu sou aquela que chorava cada vez que os via a dormir na rua, naquele mesmo sitio onde ontem estava este pedinte, bem mais seguro de si, bem mais consciente daquilo que quer e que nao quer.
Os pedintes aqui nao sao como em Portugal. Ha muitos pedintes que estao na rua porque recusam propostas de trabalho, porque nao querem entrar na "rat race" e porque olham para os cordeirinhos que o fazem com o maximo desprezo; porque escolheram ser e viver assim (pelo menos tiveram a escolha de mudar e nao o quiseram). E nos fazem sentir mal por nao os ajudarmos. Ou por ajudarmo-los.
Claro que nao sao todos assim e claro que ainda me da um grande aperto quando os vejo na rua, quando vejo cartazes afixados especificamente para eles a dizer que as suas coisas serao recolhidas se as deixarem la durante o dia ... Quando os vejo brancos como a cal a tentarem aquecer os ossos e as maos com farrapos todos rasgados e, para os sortudos, com um copo de cafe quente do Starbucks. Mas este, rosadinho e com voz bem colocada, a raiva que ele sentiu em relacao a mim falou tao alto que nao compadeci minimamente com o seu estatuto orgulhosamente apresentado de pedinte. Big issue, eu sou um cordeirinho.